terça-feira, 23 de junho de 2009

Mudando a noção de transporte

Algumas obras mudarão o conceito de transporte que temos hoje.

Uma obra com menos impacto hoje, mas que será complementada posteriormente é a requalificação da Avenida Engenheiro Abdias de Carvalho. De um modo geral, acabarão os giros à esquerda. Assim, só existirá cruzamentos. Para receber os fluxos de carros que atualmente giram à esquerda (por exemplo, na Rua João Ivo da Silva, na Rua Carlos Gomes e na Avenida General San Martin), esses cruzamentos necessariamente passarão por um alargamento ou se tornarão mão única.
A Rua João Ivo da Silva já é mão única, somente sendo necessário facilitar o acesso para o cruzamento.
A Rua Carlos Gomes é mão dupla. Provavelmente se tornará mão única sentido Bongi - Prado, sendo necessário recapear as ruas de acesso à ela. Os ônibus que voltam por ela atualmente, passariam a entrar na Rua João Ivo da Silva.
A Avenida General San Martin também é mão dupla, mas se manteria nessa condição devido a sua singularidade: por ela passam indo e voltando do Centro as linhas Jardim São Paulo (Abdias de Carvalho), Jardim São Paulo (Piracicaba) e San Martin (Largo da Paz). Assim, seria necessário construir um acesso para a linha San Martin (Abdias de C arvalho) e para os carros, que atualmente giram à esquerda, e alargá-la.

Outra obra é o corredor central de ônibus da Avenida Engenheiro Domingos Ferreira. Essa mudará principalmente o conceito de transporte coletivo pelas classes mais altas, até mesmo se essa obra for integrada posteriormente ao Corredor Norte - Sul.
Nos mesmos moldes do Corredor Leste - Oeste, o corredor da Av. Eng. Domingos Ferreira se baseará na Avenidade Conde da Boa Vista para não serem cometidos os mesmos erros. Se manterão duas faixas para o táfego misto.

Por fim, a obra de binário que começará em breve na PE-060, mais conhecida como Estrada da Batalha, em Jaboatão dos Guararapes, extensão da Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, de Recife. Será uma obra de complemento tanto de tudo o que foi feito na Imbiribeira no passado como do que foi feito recentemente na BR-101.

Essas obras mudarão o conceito de transporte que temos hoje, eminentemente individual (carro e moto) , para um transporte mais coletivo. Ao dar prioridade ao transporte coletivo, o poder público vai mudar a mentalidade das pessoas e, quem sabe, um dia, a classe média passe a usar mais o metrô e o ônibus.

sábado, 6 de junho de 2009

Polêmica à vista

Eu sempre admirei São Paulo (a capital) pelo seu poder de se auto-transformar. Nas palavras de Mário de Andrade, escritor do movimento modernista de 1922, "paulicéia desvairada" (ainda com acento agudo no 'e'). Ou segundo Oswald de Andrade, escritor companheiro do primeiro, uma cidade antropofágica.

E sempre ouvi comentários de que Recife é uma cidade provinciana. Segundo o Aurélio, provinciano é aquele natural ou próprio da província, por oposição à capital. Em seguida vem o comentário no próprio dicionário: usado muitas vezes pejorativamente com a conotação de 'atrasado', 'superado'. É até uma contradição Recife, a capital, ser contra a capital. Talvez isso remonte à época da Guerra dos Mascates, quando Recife lutou contra a capital Olinda.

Hoje é diferente. Recife é a capital e deve demonstrar isso de alguma forma. Pelo menos, deveria. Toda a impressão que falei no começo do texto, meu pai já sentiu também: a impressão de Recife parecer uma cidade do interior em relação à São Paulo.

Vou direto ao ponto. Pior do que essa sensação, é a sensação de que os próprios recifenses não querem que a cidade se torne, por exemplo, uma São Paulo, com seu porte, sua importância e sua demonstração de respeito perante os problemas que enfrenta. E esse não querer aparece sempre que uma obra nova de grande porte surge em Recife. É polêmica na certa. Vou falar de alguns exemplos aqui.

Haja vista não termos informações acerca de épocas doutrora, não podemos dizer com certeza como foi a recepção da cidade quanto a obras como a Avenida Agamenom Magalhães (que corta a cidade em Leste - Oeste), como a Avenida Recife, a Avenida Abdias de C arvalho, a Avenida Norte ou a Avenida Sul.
Uma coisa é certa, e este blogueiro sabe. Na construção da Avenida Dantas Barreto, a Prefeitura teve a coragem de derrubar a Igreja dos Martírios para que os carros, essa bela invenção para a classe média, desfilassem no Centro da cidade. Não deu outra: acabou se transformando num corredor de ônibus, haja vista o caos que já estava se tornando.

A primeira obra polêmica foi o Obelisco de Brennand, no Marco Zero. Símbolo do fim do mandato de Roberto Magalhães (atualmente deputado federal, DEM-PE), haja vista terem visto alguns, incluindo a própria esposa daquele, o órgão sexual masculino. Precisam ler mais sobre a história dos obeliscos, Egito Antigo, Maçonaria, etc. O projeto original foi modificado para "disfarçar" as características mundanas do monumento.
Francisco Brennand é um renomado artista plástico, conhecido até mesmo internacionalmente. Tem obras suas em locais que ninguém imagina. Painés no IFET (antiga Escola Técnica, depois renomeado CEFET) e na Biblioteca Pública do Estado (que fica na Avenida Visconde de Suassuna, para quem não sabe). Brennand mantém um castelo em pleno Recife, na Várzea.
E, apesar disso tudo, sua imagem foi duramente atacada na época. A troco de quê? De um provincianismo, conseqüência de uma suposta moralidade de interior que não sabe separar um órgão sexual masculino de verdade de um obelisco.

A segunda obra polêmica é o Parque Dona Lindu. Esqueçamos o mérito do nome.
Qual era a intenção inicial (ou intenções iniciais) do Parque? Fazer com que Boa Viagem, ponto turístico natural de Recife, consolidasse essa posição com um centro de convenções e eventos. A Região Metropolitana de Recife só tem um centro de convenções e, portanto, não podia receber mais de um evento ao mesmo tempo. Isso é ruim turística e empresarialmente. O prefeito Elias Gomes (PSDB-PE), de Jaboatão, tem, entre seus panos, construir um centro de convenções lá. Além disso, Boa Viagem não tem teatro. Boa Viagem não tem um parque como o Parque da Jaqueira.
Polêmica também foi porque a Prefeitura contratou com Oscar Niemeyer, por inexigibilidade de licitação, como se Oscar Niemeyer fosse alguém desconhecido, um arquiteto iniciante. Tentou-se mais uma vez destruir a imagem do idealizador da obra, como fizeram com Brennand, porém não conseguiram. Aí começaram a desqualificar a obra em si.
Disseram que ia ser mais um elefante branco, que era dois rolos de papel higiênico, e mais outras coisas. Mais uma vez, a Prefeitura modificou o projeto original, aumentando o espaço verde.
E a maldição da obra polêmica, de Roberto Magalhães, também pegou em João Paulo (PT-PE). Inaugurou, politicamente, antes de estar pronta, e já está com problemas. Ele somente quis demonstrar, em "território inimigo", que tinha vencido.

Por último, a obra das torres gêmeas no bairro de São José. Polêmica, arquiteta e juridicamente. Atenhamo-nos somente a polêmica arquitetônica.
Projetadas por um desconhecido aí, mas construídas pela conhecida de nós todos, a construtora Moura Doubex, a polêmica envolve praticamente o contraste do estilo contemporâneo das torres com o estilo da década de 1940 do prédio do Grande Recife Consórcios de Transportes, próximo ao viaduto, com o estilo francês da Estação de Trem ali próximo também, ou com o estilo português dos armazéns.
Quem cria a polêmica é quem não aceita que os armazéns, de trocentos anos atrás, reformados não sei quantas vezes, sejam vendidos para a construção de novos edifícios ou sejam derrubados para dar visão aos edifícios antigos daquela região.
Se a Prefeitura, ao terminar o acordo com o Porto do Recife, para implantar ali o Roteiro Turístico Recife Olinda, quiser derrubar tudo (fora o Terminal Marítimo e o Armazém 14), eu apoiaria. Hoje é muito mais custoso mantê-los ali (segurança, limpeza, iluminação pública, etc) do que se derrubasse tudo ou construíssem outros edifícios.

Então, as polêmicas só servem para aqueles que querem viver numa cidade de interior, pacata, calma, em que um homem vai devagar, um cachorro vai devagar, um burro vai devagar (eta vida besta!, como falou Carlos Drummond de Andrade). A cidade precisa ir, a cidade não para (Chico Science). A polêmica da Avenida Conde da Boa Vista só serve para os motoristas de carros, numa época em que é necessário discutir menos carros, mais ônibus e bicicletas.
Ou a polêmica da ponte dos Coelhos, que diziam ligar lugar nenhum a canto nenhum, mostrando o desprezo da sociedade recifense às comunidades que vivem nos extremos dessa ponte. Lugar nenhum? Não gostaríamos que nossa cidade fosse chamada de "lugar nenhum" (vai falar para um acreano que lá é o fim do mundo). Hoje, a ponte dos Coelhos é importante para quem quer sair da cidade e ir para a Ilha Joana Bezerra, e vice-versa. Um advogado, por exemplo. É muito menos distante do que fazer a volta pelas Avenidas Conde da Boa Vista e Agamenom Magalhães.