quinta-feira, 2 de abril de 2015

Tribuna do Leitor: Não à redução da maioridade!

Por Júlio Lóssio*
Aos 16 anos, eu fui preso. Finalmente, depois de dezesseis anos de espera, o Estado me acolheu. Minha mãe não teve acesso ao pré-natal. Nasci numa maternidade em que faltava soro, medicamentos, luvas e, às vezes, até o médico.
Não tive acesso à creche. No Ensino Fundamental não aprendi a ler, nem mesmo a somar. Aos 14 anos, aprendi a subtrair. Não a operação matemática, mas os bens das pessoas.
Aos 16 anos, com uma arma na mão, eu matei. Agora, finalmente, o Estado me oferece um lugar para ficar. Um lugar chamado presídio.”
Reduzir a maioridade penal é assinar um atestado de incompetência estatal. Precisamos, antes, discutir como oferecer a creche, como ofertar uma escola de qualidade para todos.
Aos 16 anos, o presídio não pode ser caminho de muitos. Poderia até ser o caminho de poucos se, antes de escolher a punição adequada, o Estado oferecesse o acolhimento em creches, garantisse uma escola básica em tempo integral, um ensino médio verdadeiramente profissionalizante.
Se de fato escolhermos uma prática educadora, precisaremos alocar recursos para esse fim, digo, para esse início. O início da mudança na forma como o Estado trata as crianças e os adolescentes.
Priorizar as pessoas desde a concepção é o melhor caminho para construirmos uma sociedade menos violenta.
Se assim não agirmos, depois da redução da maioridade penal, iremos discutir a pena morte aos 18, depois aos 16, depois aos 14 e assim por diante.
*Prefeito de Petrolina
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